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CRBM-3 Entrevista: Ana Paula Paulino destaca a relevância do papel do biomédico na medicina diagnóstica e terapêutica em Banco de Sangue
Publicado em 27/03/2025 - Última modificação em 27/03/2025 às 12h52
A atividade do Banco de Sangue é preponderante para a qualidade da saúde pública. Infelizmente, muitas pessoas com perfis saudáveis se privam do ato de doar sangue ou medula óssea, deixando, assim, de salvar muitas vidas. Captar doadores ainda é um grande desafio.
A biomédica Ana Paula Paulino (foto) tem ampla experiência em Imunohematologia, Hemoterapia clínica, Autotransfusão intraoperatória, Coleta de sangue de cordão umbilical (intra-útero e extra-útero). Experiência em Transplante de Medula Óssea em pediatria. Especialista em aférese terapêutica e não terapêutica.
Pós graduada em Hemoterapia pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP), Banco de Sangue e Hematologia pela Academia de Ciência e Tecnologia (AC&T), atualmente está como supervisora do Serviço de Hemoterapia do Hospital da Criança de Brasília.
Segundo ela, os profissionais biomédicos têm estado cada vez mais presente nessas áreas e os conhecimentos que detêm sobre as condições hematológicas é essencial. Confira a entrevista da biomédica sobre aspectos gerais da doação de sangue, abaixo:
Ana Paula é biomédica Hemoterapeuta
Como a Biomedicina tem favorecido a atuação do profissional em Bancos de Sangue, especialmente no que se refere à coleta para transplante de medula óssea?
A Biomedicina tem desempenhado um papel crucial na atuação dos profissionais em Serviços de Hemoterapia, especialmente no que se refere a aférese, transplante de medula óssea, agências transfusionais e centros de processamento celular. O biomédico do serviço de hemoterapia atua diretamente nas coletas de células progenitoras hematopoiéticas de sangue periférico, aférese terapêutica pré-transplante, quando indicado, no centro cirúrgico auxiliando a coleta de medula óssea e na criopreservação do produto coletado. Além disso o profissional também participa da triagem, como os testes imunohematológicos, que é uma das fases para verificar a compatibilidade entre doador e receptor, exames laboratoriais para a tipagem HLA (antígenos leucocitários humanos), que são essenciais para o sucesso do transplante.
Podemos afirmar que o câncer de medula e a leucemia são os mais comuns entre as crianças?
Sim, a leucemia é o tipo mais comum de câncer entre crianças, representando uma proporção significativa dos casos. A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é o tipo de leucemia mais frequente nesse grupo etário.
O procedimento para a coleta de sangue da medula óssea é simples?
A coleta de medula é um procedimento invasivo, mas necessário para o transplante. O procedimento é realizado no centro cirúrgico e a coleta é feita através de uma agulha de aspiração, geralmente na crista ilíaca, onde se encontra uma grande quantidade de medula óssea. Embora o procedimento seja relativamente seguro, ele exige anestesia peridural ou geral e pode causar desconforto ou dor pós-procedimento que são aliviados com analgésicos. Não é considerado simples, mas acontece com frequência nos centros transplantadores/coletadores.
Quais as novidades tecnológicas ou laboratoriais para diagnósticos mais céleres dessas doenças?
As novas tecnologias têm acelerado o diagnóstico de doenças hematológicas, como a leucemia. O avanço na biologia molecular tem sido um divisor de águas, ajudando a identificar mutações genéticas, marcadores tumorais e características específicas das doenças, o que facilita diagnósticos mais rápidos e precisos. A citometria de fluxo tem sido usada para considerar o diagnóstico inicial por imunofenotipagem, técnica que define linhagem, subtipo e quantifica as células neoplásicas. Além disso, a pesquisa de marcadores moleculares por técnicas de Biologia Molecular e Citogenética, como PCR, Sequenciamento, Cariótipo e Fish. São os marcadores moleculares e as alterações citogenéticas que irão classificar as leucemias, possibilitar a estratificação de risco de recaída, ou seja, possuem um valor prognóstico, bem como, podem fornecer subsídios para a terapia alvo.
O biomédico, especialmente o hematologista, consegue ajudar na orientação terapêutica?
Sim, o biomédico, especialmente aquele com especialização em hematologia e hemoterapia, tem um papel importante na orientação terapêutica. Embora o biomédico não prescreva tratamentos, ele trabalha junto com a equipe médica para fornecer diagnósticos precisos e detalhados. O conhecimento aprofundado do biomédico sobre as condições hematológicas é essencial.
Os centros especializados para tratamentos costumam ter biomédicos em seus quadros, tem conhecimento sobre isso?
Sim, centros especializados no tratamento de doenças hematológicas e câncer frequentemente têm biomédicos em seus quadros. Esses profissionais são essenciais em hemoterapia, oncologia, hemato-oncologia e hematologia, onde trabalham em estreita colaboração com médicos e outros profissionais de saúde para realizar coletas de CPHSP e MO, exames laboratoriais, interpretar resultados e auxiliar no monitoramento da condição do paciente. Os biomédicos especializados em hematologia e hemoterapia desempenham um papel importante.
E quanto aos estoques nos bancos de sangue? Qual a avaliação?
Os estoques nos bancos de sangue são uma preocupação constante, pois a demanda por componentes sanguíneos, principalmente plaquetas e hemácias, podem ser altas, especialmente em tratamentos oncológicos e transplantes de medula óssea. Para garantir a disponibilidade, é fundamental que os bancos de sangue mantenham um sistema eficiente de coleta e reposição, com campanhas de doação regulares, captação de doadores beira leito e com a participação da sociedade.
Algum outro comentário?
O papel do biomédico na medicina diagnóstica e terapêutica tem se tornado cada vez mais relevante, especialmente nas áreas de hematologia, hemoterapia e oncologia (IMPRENSA CRBM-3).