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Necessidade de jejum para coleta de sangue

(Foto: Pixabay/imagens gratuitas)
 

Muitas pessoas reclamam do jejum, mas o pré-requisito é condição para que, em alguns tipos de exames, não haja interferência na composição dos elementos do sangue. Na rotina laboratorial, a maioria dos exames de sangue exige, no mínimo, um jejum de três a quatro horas, somado a um período de repouso, pois é sabido que o estresse e a atividade física também podem interferir nos resultados de alguns exames. E estes resultados constituem numa informação complementar que auxilia na definição do diagnóstico da saúde do paciente.

A conselheira titular do CRBM-3, mestre em medicina tropical e saúde pública na área de Parasitologia, Cirlane Silva Ferreira, e que também atua como analista em saúde na Secretaria Municipal de Saúde e professora da Universidade Estadual de Goiás (UEG), em Palmeiras de Goiás, explica que o jejum não é necessário para a maioria dos exames de sangue. Porém, a orientação de fazer a coleta após um intervalo variável de tempo sem ingerir alimentos é uma técnica de padronização. Muitos dos valores de referência foram determinados em pessoas de quem o sangue foi colhido em jejum.

“O jejum de 12 horas para a coleta do perfil lipídico e de 8 horas para o exame de glicose no sangue para diagnóstico do diabetes é uma exigência formal”, reforça Cirlane. Mas, há outros pré-requisitos importantes e que devem ser considerados sobre o jejum. Confira na entrevista.

O que caracteriza jejum?

O significado de jejum corresponde à privação de alimento durante um período de tempo.  Para a Fisiologia Humana, entende-se por jejum o tempo no qual uma pessoa não recebe nenhum aporte calórico. O período clássico de jejum de 12 horas foi definido com base no tempo máximo que uma pessoa normal levaria para metabolizar todo o alimento ingerido na última refeição. Segundo a maior parte dos autores, é um período superior a 8 horas, no qual há ingestão apenas de água pura. Após as 14 horas sem alimentação, temos o jejum prolongado.

 Por que o jejum é importante?

Os exames de sangue podem sofrer dois tipos de influência em relação à alimentação: a primeira se refere à concentração de analitos (substância ou componente químico em uma amostra) que variam de acordo com a ingestão de alimentos. Podemos citar como exemplo, a insulina, a glicose e os triglicerídeos. Nestes casos o intervalo de jejum precisa ser informado para uma correta interpretação dos resultados, em virtude da padronização dos valores de referência.

A outra influencia se refere ao método usado pelo laboratório para determinar a concentração do analito na amostra. Caso a ingestão de gorduras seja significativa, ou caso a pessoa metabolize a gordura ingerida mais lentamente, o seu sangue pode se mostrar lipêmico no momento da coleta sem jejum. A lipemia torna a amostra mais turva e alguns métodos de laboratório são sensíveis a esta turvação e podem gerar resultados errôneos.

A necessidade do jejum decorre também do fato de os valores de referência dos testes terem sido estabelecidos em indivíduos nessa condição. A refeição pode alterar a composição sanguínea momentaneamente sendo que, sem o pré-requisito, cada exame teria de ser analisado à luz do que a pessoa ingeriu.

Então, é fundamental respeitar o período do jejum...

Ao longo dos anos foi se consolidando a rotina da obrigatoriedade do jejum para a realização de exames laboratoriais. Esta dúvida é freqüente e é inevitável após a entrega dos pedidos de exames ao realizar o agendamento no laboratório clínico pelos pacientes. De uma forma ideal, o médico solicitante, deve ser o primeiro a instruir o paciente sobre as condições requeridas para a realização do exame, informando-o sobre a eventual necessidade de preparo, como jejum, interrupção do uso de alguma medicação, dieta específica ou mudanças na prática de alguma atividade física.

Recentemente tem-se questionado sobre a necessidade de jejum antes da realização dos exames laboratoriais. Assunto de enorme discussão no setor, especialmente quanto ao seu impacto nos resultados dos exames laboratoriais e na segurança do paciente.

Sabe-se que o estado alimentado predomina durante a maior parte do dia, estando o paciente mais exposto aos níveis de lípides nestas condições em comparação com o estado de jejum, representando mais eficazmente seu potencial impacto no risco cardio-vascular.

As dosagens no estado pós‐prandial (período que vem após as refeições) são mais práticas, viabilizando maior acesso do paciente ao laboratório, com menor perda de dias de trabalho, abandono de consultas médicas por falta de exames e maior acesso à avaliação do risco cardio‐vascular.

Quais exames exigem essa privação do alimento?

Jejum não é necessário para a maioria dos exames de sangue. No entanto, é recomendado que sejam feitas apenas refeições leves antes de realizá-los. Entre eles destacam-se o hemograma, a análise dos hormônios tireoidianos T3 e T4 e o teste de gravidez.

Na prática usual, o jejum é uma exigência formal para a coleta do perfil lipídico e para o exame de glicose no sangue para diagnóstico do diabetes, sendo 12 horas de jejum para o perfil lipídico e 8 horas para dosagem de glicose.

A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/ Medicina Laboratorial (SBPC/ML) entende que a questão acerca da necessidade ou não do jejum para coleta do perfil lipídico ainda se encontra em fase de discussão.

Estudos recentes para avaliação da influência do jejum na dosagem do perfil lipídico para avaliação do risco cardíaco demonstraram que é possível fazer esta avaliação em amostras de pacientes sem jejum, com as vantagens de refletir melhor as condições fisiológicas do dia a dia e evitar o desconforto e possíveis complicações do jejum prolongado. A dosagem com jejum prolongado seria necessária somente quando o nível de triglicérides, fora do estado de jejum, estiver acima de 440 mg/dL.

O jejum vale também para a água?

Existem muitas dúvidas se é permitido tomar água em jejum. Sim, é permitido. Mas convém tomá-la com moderação. O excesso interfere nos exames de urina. Se seu exame envolve algum tipo de anestésico, você não poderá beber água.

E se a pessoa se esquecer, beber água, pode haver alterações?

Sobre a ingestão de água, não afeta o resultado do exame, desde que não seja consumida em excesso.

No que a falta do jejum interfere no resultado?

O jejum para exames de sangue é apenas um pequeno desconforto antes da realização de testes cruciais em processos de diagnóstico. Ele deve ser seguido corretamente, para que os resultados sejam precisos e forneçam informações verdadeiras sobre o estado de saúde do paciente. As tecnologias de realização de exames têm evoluído, hoje usamos volumes menores de amostras, alguns equipamentos detectam e tratam a lipemia, e alguns métodos, como a química seca, são pouco sensíveis a ela. Desta forma, a liberação do jejum ainda é específica do laboratório para grande parte dos exames, uma vez que nem todos utilizam os mesmos sistemas.

É preciso confiar, então, no paciente...

Outra situação que nos preocupa muito: a ausência de uma verificação laboratorial viável para confirmar se o paciente está ou não realmente em jejum. Algumas vezes, ao ser perguntado sobre jejum, o paciente informa positivamente, mas omite alguma ingestão, de forma deliberada, por mero esquecimento, ou por acreditar que aquilo que ingeriu não "quebra" o jejum. Desta forma, às vezes acreditamos que a amostra foi obtida em jejum, mas não foi.

Um bom preparo antecedendo um teste diagnóstico muitas vezes tem um peso tão grande quanto o da própria análise do sangue. A orientação de fazer a coleta após um intervalo variável de tempo, sem ingerir alimentos vem, em primeiro lugar, de uma exigência técnica de padronização. Isso porque muitos dos valores de referência que vemos nos resultados dos exames foram determinados em pessoas de quem o sangue foi colhido em jejum.

Portanto, para que os resultados possam ser comparados aos valores de referência, é preciso realizar os testes laboratoriais exatamente nas mesmas condições. Além disso, convém ressaltar que após a alimentação pode ocorrer, momentaneamente, uma alteração na composição dos elementos do sangue. Sem o jejum, os resultados dos exames teriam alguma utilidade se interpretados considerando o que a pessoa comeu e bebeu antes da coleta. Se pensarmos bem, algo inviável tanto para o médico que pediu o teste, quanto para o laboratório, pois a quantidade e a qualidade dos alimentos ingeridos são muito diferentes de pessoa para pessoa.

Há um prazo mínimo ou máximo determinado para o jejum antes dos exames laboratoriais?

O período de jejum habitual para a coleta de sangue de rotina é de 8 horas, podendo ser reduzido a 4 horas para a maioria dos exames. A principal orientação a seguir é a do médico que prescreve o exame. É importante perguntar ao especialista se há necessidade ou não do jejum. Somente o médico tem condições de fazer essa recomendação de forma correta. Ao chegar ao laboratório, comunique quanto tempo está em jejum para que o médico possa interpretar corretamente o exame. Caso o médico indique o jejum para o exame, a orientação deve ser seguida. O jejum de 12 horas não foi extinto, algumas pessoas ainda necessitarão fazer (para realizarem a dosagem de lipídeos). O que existe é a possibilidade de se flexibilizar.

Em quais circunstâncias dá para abrir mão dessa orientação?

Em algumas situações o tempo de jejum deve ser inferior ao que é normalmente indicado, como em exames solicitados para crianças, gestantes, diabéticos e idosos. Nesses casos, é preciso pedir orientação médica sobre o período mínimo durante o qual os alimentos devem ser evitados para que as análises sejam eficazes. Manter a alimentação normal possui vantagens como evitar possíveis complicações relacionadas ao grande período sem ingestão de alimentos.

Este grupo de pessoas pode não resistir a 12 horas sem comer e passar mal - com uma crise de hipoglicemia, por exemplo, quando o nível de glicose no sangue está abaixo da faixa considerada normal (70mg/dl), podendo causar tonturas, vômitos, náuseas e até desmaios. Para crianças, especialmente em fase de amamentação, utilizamos como padrão um jejum de três horas, porém, em situações específicas, esse período pode ser alterado ou até dispensados.

Em princípio, os valores de referência dos exames laboratoriais são definidos em um grupo de pessoas em estado de jejum de 12 horas. Assim, períodos maiores que esse tempo pré-definido avançariam sobre um novo ciclo metabólico, passando a não obedecer à padronização desejada. É por este motivo que os laboratórios só costumam coletar exames de pacientes acima de 14 horas de jejum em situações de urgência e emergência, nas quais o médico do paciente está ciente dessas condições.

Em situações assim, então é possível adequar?

Em situações de emergência ou urgências hospitalares estes critérios (ausência de jejum) poderão ser adequados às necessidades, convindo sempre que deverão estar registrados no laudo laboratorial. É importante salientar que um período de jejum prolongado também pode interferir nos resultados. Quando ficamos mais de 14 horas sem comer, por exemplo, nosso corpo começa a usar suas reservas energéticas e consome as gorduras e proteínas do organismo. Dessa forma, alguns indicadores sanguíneos são momentaneamente alterados.

Após um jejum prolongado e a execução dos exames laboratoriais, por que é importante se alimentar?

Todo pesadelo tem fim. Depois de até 12 horas de fome, a recompensa vem, logo após a coleta do material, em forma de café da manhã ou lanche oferecido nos laboratórios. Assim como o jejum é importante, o desjejum no laboratório é essencial. O alimento é o combustível para o corpo realizar as atividades diárias como andar, falar e respirar. Todos os processos biológicos essenciais para o desempenho das atividades diárias são dependentes da alimentação.

E se não comer, quais reações podem ocorrer?

Após um jejum prolongado, o que pode ocorrer com maior freqüência, são episódios de hipoglicemia no organismo (a baixa taxa de glicose no sangue). Algumas das sensações são: fome súbita, tremores, sonolências, suor frio e tontura, confusão mental, irritabilidade, fadiga, falta de coordenação motora, tristeza, formigamentos pelo corpo, dormência nos lábios e na língua, podendo variar entre eles de pessoa para pessoa.

(Imprensa CRBM-3)