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Palestra sobre “Epigenética” convida à reflexão sobre a interação célula e ambiente

Doutora Fabiana Brandão visa apresentar um panorama geral sobre o assunto com foco em estudos e pesquisas. Confira a entrevista.

“As alterações químicas herdáveis que envolvem o DNA e as histonas são foco de estudos em todo mundo. Epigenética é um tema inovador, muito embora não seja novo, pois abrange as diferentes áreas da biociência”, quem esclarece é a doutora em Biologia Molecular, biomédica microbiologista e professora adjunta da Universidade de Brasília (UnB), Fabiana Brandão. Ela ministra a palestra “Epigenética: como o ambiente afeta a expressão dos genes”, dia 25 de outubro, às 9 horas, no 3º CBCO.

Fabiana Brandão explica que o prefixo Epi vem do grego que significa “além”, “no topo”… A Epigenética veio para complementar o entendimento humano sobre genética; trouxe à luz do conhecimento o importante papel do ambiente na formação das células, indivíduos e sociedade. Conforme a especialista, deve ser vista como algo que sempre existiu, mas somente fomos capazes de evidenciar há pouco mais de três décadas. É uma ciência séria, que se baseia em evidências científicas experimentais, conduzidas por métodos científicos, e não ‘achismos’ ou suposições. Assim como toda ciência, deve ser cautelosamente interpretada, estudada e cuidadosamente generalizada.

Nas Ciências Biomédicas, atualmente vivemos o momento “Epigenoma Humana”. Os eventos epigenéticos são foco de estudos sobre os diferentes tipos de câncer, depressão, imunidade, interação patógeno-hospedeiro, cuidado materno e seus efeitos, obesidade. “Até mesmo a NASA vem desenvolvendo estudos sobre alterações epigenéticas em seus astronautas decorrentes das viagens no espaço. Portanto, é indubitável a importância desse tema na academia, bem como em centros de pesquisa e desenvolvimento biomédico”, acrescenta. Confira mais detalhes na entrevista para a Imprensa do CRBM-3 e o Site do CBCO.

- O que será abordado sobre Epigenética no conteúdo de sua palestra?

O tema Epigenética será ministrado de forma provocativa, visa instigar a reflexão acerca do que acontece no interior das células quando interagindo com o ambiente. Visa proporcionar ao espectador um panorama evidenciando a célula e sua interpretação de sinais externos (ambiente) através da expressão dos genes. Será apresentando os principais Artigos científicos clássicos sobre o assunto; serão discutidos de forma simples e didática, usando exemplos cotidianos, facilitando o entendimento e provocando a reflexão. Serão apresentados também os estudos que estão sendo conduzidos pela pesquisadora no campo da Epigenética e Microbiologia.

- Como a escolha do ambiente e alguns hábitos podem se transmitir aos genes? De que modo isso é comprovado?
O ambiente é entendido como qualquer situação externa que influencia a expressão de genes. Há uma serie muito bem conduzida de estudos com variação transgeracional da expressão de genes, especialmente os estudos pós II guerra e efeitos do holocausto nos descendentes da fome na Holanda (Heijmans et al, 2008). Em meus estudos com fungos patogênicos, “o ambiente” são as condições de cultivo as quais submeto o micro-organismo a crescimento, deste modo, consigo observar alterações nos fenótipos de virulência, tanto no nível morfológico, quanto no nível molecular. Nos meus estudos observacionais, coleto informações e aplico testes estatísticos para remover qualquer viés do estudo, comparando sempre uma condição controle (sem alteração do ambiente) versus um teste (alterando o ambiente: pH, temperatura, nutrientes e/ou adição de moléculas conhecidamente capazes de remodelar a cromatina - Epidrogas). No nível molecular, meus estudos são baseados nos postulados moleculares de Koch, precisamente item 3: a deleção (mutação) do gene deve atenuar a virulência da cepa e a re-inserção do gene deve retorná-la.

- O profissional biomédico especialista nesta área atua em que tipos de empresas ou organizações?
São várias as possibilidades de atuação, vai depender de outras expertises do profissional. Por exemplo, na pesquisa pode-se trabalhar com Epigenética tanto em pesquisa básica quanto em pesquisa clínica. Além disso, na biotecnologia é possível modular eventos epigenéticos para resultar em melhor produção de biofármacos, maior produção de óvulos fecundados em bovinos, melhoramento genético na agropecuária e plantio. É possível também aumentar produção de leveduras na fermentação de alimentos e derivados. Na clínica médica, como já citado, os tratamentos para diferentes tipos de câncer usam as “Epidrogas”… São inúmeras as possibilidades. (Imprensa CRBM-3)